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Conheça a história do vinho: como a bebida acompanhou as civilizações

Não existe história do mundo sem vinho e muito menos vinho sem história. Embora a origem desta bebida seja imprecisa, ela acompanhou o desenvolvimento de diferentes civilizações ocidentais e orientais.

Tudo indica que o vinho surgiu por acaso, antes mesmo da escrita, depois que alguém esqueceu um punhado de uvas amassadas em uma vasilha. Elas sofreram uma fermentação espontânea a partir das leveduras presentes em suas cascas. Provavelmente tomaram o líquido achando que era suco, e se surpreenderam com o efeito causado pelo álcool.

Segundo a crença popular, o vinho foi consumido pela primeira vez na Pérsia, região onde hoje está localizado o Irã, por volta de 5.000 a.C. Reza a lenda que uma das mulheres do harém do rei persa Jamshid tentou se matar depois de ser banida. Para isso, ela bebeu o suco de uvas amassadas e provalvemente “estragadas” para se envenenar. No entanto, em vez da morte, encontrou animação e euforia. Ela, então, voltou ao rei para contar o que havia acontecido e ele ordenou que todas as uvas cultivadas na cidade virassem vinho. Essa história faz parte da mitologia persa e está no Livro dos Reis, escrito pelo poeta Abol – Ghasem Hassan ibn Ali Tusi, também conhecido como Ferdusi.

Folclores à parte, as primeiras evidências arqueológicas em torno do surgimento do vinho remontam a 6.000 a.C. na região do Cáucaso, entre os mares Negro e Cáspio, onde hoje ficam Geórgia, Armênia, leste da Turquia e norte do Irã. Resíduos de ácido tartárico (composto presente no vinho) foram encontrados em cerâmicas que datam do período Neolítico. Isso sem falar que a Vitis Vinífera, espécie mais utilizada na produção de vinho no mundo, é também originada nesta região.

O VINHO NO EGITO ANTIGO

Berço da humanidade e uma das mais importantes civilizações do mundo, o Egito marcou também sua presença na história da produção de vinhos. Mesmo que as primeiras uvas não tenham sido cultivadas por lá, é nessa localidade no norte do continente africano que foram descobertos os registros mais antigos da produção e do consumo da bebida. Encontradas em tumbas e monumentos do Egito Antigo, que teve início a partir de 3100 a.C., as primeiras representações mostram em detalhes todo o processo desde o cultivo até o consumo.

Os chamados pictogramas – símbolos feitos com estilete sobre argila molhada nas tumbas de faraós, nobres e artesãos – mostram que o vinho passava por um procedimento elaborado, tecnologia bem avançada para a época. Há informações sobre cultivo, colheita e esmagamento das uvas, e até mesmo sobre os processos de fermentação e armazenamento. Inclusive, os jarros eram marcados com a informação da origem das castas e o ano em que elas foram colhidas. Apesar de não sabermos quais variedades eram utilizadas.

O consumo do vinho no Egito Antigo era reservado quase exclusivamente aos faraós e suas famílias. O vinho era bebido em homenagem aos deuses, principalmente a Osíris, responsável pela vida após a morte.

O VINHO NA GRÉCIA ANTIGA

Por volta de 2000 a.C. o vinho se tornou importante também na Grécia Antiga, inserido na civilização por meio do comércio com o Egito. Aliás, a filosofia, a política, a poesia e a ciência desse povo, que até hoje permeiam o pensamento ocidental, provavelmente não teriam sido os mesmos sem esta bebida. A milenar cultura do vinho no período é comprovada por evidências de mais de 4 mil anos de idade. Inclusive, uma das primeiras prensas de vinho foi descoberta em Creta, além de outros equipamentos usados na produção.

A partir de 1100 a.C., quando teve início a fundação e expansão do Império Grego, as videiras e a vitivinicultura foram levadas para outras regiões do Mediterrâneo, para a África, sul da Espanha, sudoeste da França, Sicília e boa parte do que hoje é a Itália. A bebida tornou-se, então, um dos principais produtos de exportação da Grécia Antiga. Além da importância comercial que o vinho adquiriu, também servia a outros propósitos na sociedade grega, como religiosos e sociais. Ao longo do ano, vários festivais em homenagem ao deus do vinho, Dionísio, eram realizados. Além disso, fazia parte das refeições, pois acreditavam que o líquido os tornaria mais fortes e saudáveis, ideia difundida pelas obras épicas Odisséia e Ilíada, de Homero.

Provavelmente, o vinho era produzido com uvas passas e secas, o que resultava em uma bebida pesada e doce, quase um xarope. Na maioria das vezes era consumido diluído em água e armazenado em ânforas, jarras de cerâmica similares àquelas usadas pelos egípicios. Quem receitava a bebida pura era Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental e um dos principais propagadores das propriedades medicinais do vinho. Ele indicava a bebida como complemento nutricional, contra febre, diurético, laxante, anti-séptico e cicatrizante de feridas.

O VINHO NO IMPÉRIO ROMANO

Desde o momento de sua fundação, Roma adotou os padrões da cultura grega, que em seguida também seriam os modelos seguidos pelo Império Romano. É de se imaginar, então, que o hábito do vinho também estaria presente. Embora de início não tenha havido muito interesse pela bebida, os romanos garantiram uma importante expansão à vitivinicultura da época.

Foram os romanos que classificaram e catalogaram diferentes tipos de uvas viníferas e estudaram doenças e pragas que afetavam suas parreiras. Também inventaram o barril de madeira para armazenar os vinhos e, com isso, descobriram o efeito das madeiras no sabor da bebida. Os romanos levavam seu vinho para todos os lugares que invadiam, como forma de submeter sua cultura aos povos conquistados.

Mesmo que não se tenha muita informação sobre os vinhos em si, sabe-se que o resultado das melhores safras era estocado e consumido por um século ou mais. Os vinhos mais comuns eram provavelmente jovens, leves e um pouco rústicos, enquanto os melhores exemplares eram mais robustos e podiam envelhecer por anos.

Assim como os gregos, os romanos consideravam o vinho um produto medicinal. Galeno, médico do imperador Marco Aurélio, prescrevia livremente vinho e doses diárias e moderadas como cura para a maioria das doenças.

Entre os séculos 1 a.C. e 1 d.C. a comprensão dos romanos sobre vitivinicultura aumentou e melhorou. Acredita-se que esse conhecimento tenha influência nos cartagineses, grandes conhecedores de vinho que circularam pelo sul do Mediterrâneo durante as Guerras Púnicas, entre Cartago e Roma. A partir desse momento, há registros de estudos sobre o vinho e de instruções sobre plantio e manejo oferecidos por naturalistas como Columella e Plínio, o Velho.

Ao final do Império Romano já havia registro de vinhedos em famosas regiões francesas: Loire e Rhône no século 1, Borgonha no século 2, Champagne e Alsácia no século 4.

O VINHO NA IDADE MÉDIA

A queda do Império Romano afetou as rotas comerciais e criou efeitos adversos na produção vinícola. Mesmo assim, a Idade Média garantiu a ascenção do vinho, marcada principalmente pela incorporação da bebida à Igreja Católica, que fez com que a vitivinicultura se mantivesse viva. Foi Carlos Magno, primeiro Imperador do Sacro Império Romano, o responsável por organizar o território europeu, que estava fragmentado. Entre as leis promulgadas por ele, estavam aquelas que regulamentavam o cultivo de uvas e a produção de vinhos. Além dele, a Igreja Católica também tinha terras com uvas cultivadas e recursos para manter vinhedos e a produção de vinho, especialmente em seus mosteiros.

Foi durante a Era Medieval que o vinho se tornou de fato popular, principalmente por fazer parte das cerimônias religiosas. Beneditinos e os franciscanos, além de outras ordens católicas, disseminaram a cultura do vinho quando se espalharam pela Europa. A Igreja mantinha um rígido controle de vinificação e ainda comandava o comércio, garantindo que o estoque dos mosteiros fosse totalmente vendido. Qualquer procedimento era meticulosamente estudado e melhorado: desde a combinação das uvas às condições de solo e clima até a propagação e plantio, condução da videira, prensagem e estocagem. O resultado foi um grande avanço na qualidade dos vinhos.

Com a tranformação do vinho em moeda de troca, surgiu uma nova camada na sociedade, com hábitos mais refinados e disposta a pagar mais por vinhos melhores. Assim, o perfil dos produtores também mudou, e vinícolas particulares passaram a produzir a bebida além dos mosteiros.

As principais mudanças ocorreram na França, a partir do século 12, quando foi fundada na Borgonha a Ordem dos Monges Cisterscienses. Adeptos da vitivinicultura, eles são conhecidos por levarem as primeiras mudas de Chardonnay para Chablis, hoje a principal região produtora do vinho branco feito dessa uva. Na mesma época, Bordeaux viveu um importante desenvolvimento na produção de vinho, tornando-se principal fornecedora da bebida para a Inglaterra. Isso aconteceu depois do casamento do rei inglês Henrique II com a viúva do rei da França, Leonor de Aquitânia.

O VINHO NAS IDADES MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Com status valorizado, o vinho se manteve com consumo alto e estável em toda a Europa. O período foi marcado por dois grandes acontecimentos. No fim do século 17 o espumante foi descoberto por Dom Pérignon em um mosteiro na França, o que levou ao desenvolvimento dos Champagne. O mesmo período foi marcado também por melhorias na fabricação de vidros, que levaram à produção de garrafas mais resistentes para armazenar vinhos. Além disso, a rolha como novo método de vedação revolucionou as questões de armazenamento e envelhecimento da bebida.

Por meio dos estudos modernos de química e microbiologia, principalmente realizados por Louis Pasteur, houve um entendimento mais profundo sobre os processos de vinificação, trazendo ainda mais qualidade aos vinhos produzidos. E na medida em que a bebida melhorava, mais e mais era consumida e apreciada. Na segunda metade do século 19, um grande desastre tomou conta de toda a Europa em decorrência de um parasita chamado filoxera, que chegou ao continente vindo dos Estados Unidos. Em meados dos anos 1860, a praga foi identificada nos vinhedos da França e, em vinte anos, se espalhou destruindo grande parte das videiras na Europa. A produção de vinhos ficou estagnada até que os produtores entendessem o que precisava ser feito. Eles começaram a substituir as raízes de suas videiras por porta-enxertos da América do Norte, que tinham resistência à filoxera.

A epidemia levou os produtores a buscarem novas terras viníferas. E foi assim, entre o fim do século 19 e o início do 20, que a indústria de vinhos do Novo Mundo começou a tomar forma, em regiões como América do Norte e do Sul, África do Sul e Austrália.

O VINHO HOJE

Os acontecimentos do início dos anos 1900, como a Grande Depressão, a Lei Seca e as Guerras Mundiais, mudaram o cenário do vinho por completo. Somente na segunda metade do século é que a bebida conseguiu voltar ao mercado de forma sólida.

Na década de 1970, em uma degustação às cegas em Paris, que incluiu vinhos de Bordeaux e californianos, os jurados ficaram supresos ao dar o primeiro lugar a um vinho norte-americano. O resultado do chamado Julgamento de Paris abriu as portas para os vinhos do Novo Mundo.

Nos últimos 30 anos, a indústria do vinho se tornou muito mais consistente, com processos de produção rigorosamente controlados, maquinários e tecnologia, além da possibilidade de produzir vinhos em diferente regiões do planeta.

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Meu nome é Juliana Palma, mas sou mais conhecida simplesmente como Ju Palma. Tenho 28 anos e moro em Porto Alegre. Sou uma jornalista especializada em marketing e uma apaixonada por comer, beber e viajar. E é sobre isso que escrevo há seis anos. Nesse meio tempo, ainda me formei sommelière profissional de vinhos. Se quiser falar comigo, é só enviar um e-mail para jupalma@jupalma.com.br

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