América do Sul,  Para viajar

Roteiro de cinco dias para quem vai a Buenos Aires pela primeira vez

Em 2015 viajei pela primeira vez de férias a Buenos Aires, na Argentina. Foram sete dias incríveis. Na ocasião, criei meu próprio roteiro, baseada naquilo que era mais turístico e indispensável conhecer e também em outros lugares sobre os quais já tinha ouvido falar e me interessava visitar. Dividi minha viagem por bairros, e foi a melhor coisa que poderia ter feito.

Esses dias, me pediram dicas de lá, para conhecer, comer e beber bem. Resolvi, então, recuperar um texto que escrevi na época: um roteiro de cinco dias para iniciantes, refazendo os passos que fiz.

Dá uma olhada!

Para quem viaja pela primeira vez a Buenos Aires, a dica é apostar nos clássicos para não errar. Digo isso tanto para a parte turística quanto – e principalmente – para a parte gastronômica.

Buenos Aires sabe ser tradicional em seus restaurantes, e é incrível conhecer cada um deles. Vá, porém, com a cabeça aberta para conhecer uma parte mais descolada da cidade, como os bares de drinks, afinal a capital argentina é uma das principais referências em coquetelaria na América do Sul, e não dá pra perder a oportunidade de conhecer as criações dos portenhos.

A dica é: aproveite o dia para comer bastante, nos clássicos e tradicionais, e a noite para apostar nas bebidas e conhecer os melhores drinks da cidade. Quando estive lá, a inflação estava alta, então precisei fazer algumas escolhas para não gastar uma exorbitância. Por isso, comia bastante durante o dia e a noite eu reservava para os coquetéis.

Para começar, vale se hospedar no Centro. Assim, você terá uma distância relativamente igual para a maior parte das regiões. Comece o roteiro turístico por lá, afinal é onde estão localizados pontos como a Casa Rosada, o Obelisco e o Teatro Colón.

DIA 1: CENTRO

Comece o dia com um café da manhã no local mais tradicional de Buenos Aires: o Café Tortoni. O lugar, que funciona desde 1858, é cheio de delícias, a começar pelo chocolate com churros. Mas, pela manhã, o combo de café da manhã que leva o nome da casa basta para dar energia para as andanças que virão: café con leche, tostadas e suco de laranja.

Seguindo na rua do Tortoni, você vai parar na Plaza de Mayo, onde estão a Casa Rosada (sede da presidência), a Catedral Metropolitana de Buenos Aires e o Cabildo de Buenos Aires, edifício histórico que serviu de sede para o representante da região na época colonial.

Pare para um almoço no clássico italiano Broccolino. Uma cesta de pães, um prato de massa com molho bolonhesa e uma garrafa pequena de vinho são as dicas perfeitas para uma refeição tranquila.

Na volta, seguindo na Avenida 9 de Julio, passe pelo Obelisco e pare para uma visita guiada pelo Teatro Colón. É de encantar qualquer um. Há vários horários disponíveis, e é bem tranquilo de comprar ingresso na hora para o passeio.

Os argentinos costumam fazer tudo mais tarde do que os brasileiros. Então, volte para o hotel e descanse um pouco antes de partir para a noite portenha. Buenos Aires é a capital na América Latina referência em coquetelaria. Prepare-se para encontrar lá o que você nunca viu aqui. E se é para começar com o pé direito vá cedo ao Florería Atlántico. Digo cedo porque o lugar está sempre lotado, todos os dias. O bar fica bem escondido, na parte de baixo de uma floricultura. Basta chegar e a atendente mostra o caminho. Sente no balcão (sempre) prepare-se para drinks espetaculares como o que bebi por lá na época, chamado Wake Up Julep, com Jameson, limão, hortelã, geleia caseira de laranja e lavanda.

DIA 2: RECOLETA

Provavelmente, depois de uma noite com vários drinks você vai acordar relativamente tarde. Vá direto para o almoço, no Centro mesmo. Desta vez em um lugar bem conhecido dos locais e longe do holofote dos turistas: El Nacional. A dica desse restaurante recebi da minha querida amiga Sara Bodowsky, editora do Roteiro da Sara e uma apaixonada por Buenos Aires. Localizado na frente do Colégio Nacional, tem comida saborosa e preços acessíveis, além de estar sempre lotado de estudantes e pessoas que trabalham pela região. Não titubeei ao escolher um clássico: bife de chorizo com fritas!

Em seguida, o destino é a Recoleta. Prepare-se para caminhar por vários pontos turísticos. No Cemitério da Recoleta está o túmulo de Evita Perón e várias outras personalidades importantes. Basta chegar e se incluir em algum grupo guiado que esteja saindo para o passeio. Acho mais bacana a visita com um guia, para entender tudo o que o cemitério e as obras dispostas nele representam.

Para quem curte cultura, o Museu Nacional de Belas Artes é um dos principais da América Latina e guarda mais de 12 mil peças em três andares.

Na volta para o hotel, separe um tempinho para conhecer a linda e famosa livraria El Ateneo Grand Splendid. Eu ainda trouxe na bolsa três livros de escritores argentinos para ler em casa. Na saída, três quadras distante dali, há uma filial da sorveteria Un’Altra Volta. Helados artesanais deliciosos. Sugestão de sabor? Dulce de leche granizado, óbvio!

À noite, siga nas proximidades do Centro. Vá conhecer os drinks do Gran Bar Danzón, só cuide para não se encantar tanto e correr o risco de trocar o dinheiro do jantar pelos drinks. Lá eles têm uma bela adega de vinhos, para quem preferir. Sente-se no balcão cheio de luzinhas e experimente coquetéis como o que provei: Let it Bleed, que leva Bacardi Gold, pomelo, xarope, Angostura e um toque de vinho Malbec (que vai afundando pelo drink enquanto você bebe).

DIA 3: PALERMO

Palermo é o reduto dos bares e restaurantes em Buenos Aires. Se o seu foco não for exatamente turismo e sim comer e beber bem, minha sugestão é se hospedar por lá e aproveitar tudo o que o bairro tem a oferecer.

Comece o dia na Cocu Boulangerie, um pedacinho da França em plena Argentina. Peça o café da manhã no balcão, escolha sua mesa e aguarde. Pedi o Desayuno Cocu, que vinha com uma cesta de pães diversos muito saborosos (me apaixonei pelo croissant), suco de laranja e o café con leche.

Aproveite o bairro para visitar a parte que envolve a natureza, como o Paseo El Rosedal. Este fica melhor na primavera, quando as flores estão brotando. Como fui no inverno, em pleno agosto, não pude curtir tanto as belezas e os aromas, mas foi bonito igual.

O Jardín Japonés fica logo ao lado e tem recantos que parecem pinturas.

O bairro é muito grande, então dessa vez talvez não seja possível fazer tudo caminhando. Para repor as energias, almoce no clássico El Preferido de Palermo. Um bodegón súper simples que serve uma das melhores milanesas que já comi. Então já sabe: milanesas, fritas e uma Quilmes bem gelada.

Caminhe pelas ruas tranquilas, conheça as lojas e faça umas comprinhas. Na hora do jantar, minha única sugestão possível é o Nicky NY Sushi, um dos melhores japoneses que já tive a oportunidade de experimentar. Você vai comer sushis, mas a sua intenção mesmo é provar os drinks. Sim! Peça discretamente à atendente que te leve até o bar, The Harrison Speakeasy e se surpreenda com a experiência que vem pela frente. Um dos mais incríveis bares de drinks da cidade. Você até pode até tentar tirar fotos dos drinks, mas o bar é tão escondido com sua vibe proibida, que se enxergarem você com uma câmera, vão pedir para parar. Foi o que aconteceu comigo! Na época, pedi o Malbec Style: vinho Malbec, suco de limão, cascas cítricas, gengibre, Angostura e redução de frutas vermelhas.

Já que você está nos bares, por que não entrar a noite percorrendo alguns deles? É o que mais se faz por lá! Você já deve ter percebido que os bares são todos meio escondidos, e o Victoria Brown não é diferente – a parte da frente é uma cafeteria e a parte dos fundos fica por conta dos drinks, separadas por uma parede falsa. Experimentei o La Provence, com gim macerado com lavanda, mel e suco de limão.

Um pouco mais distante, mas não menos inspirador, o Frank’s é perfeito para encerrar a noite. Mas atenção: você vai precisar de uma senha para entrar, que pode ser desvendada a partir de posts semanais na página do bar no Facebook. Quando estive lá, a resposta da charada era Frank Underwood, personagem principal da série House of Cards, uma das minhas preferidas, então foi simples adivinhar.

Infelizmente não lembro os nomes dos drinks que bebi lá, mas sente no balcão e converse com os bartenders para conseguir as melhores dicas. O bar tem uma vibe anos 1920 e eles sugerem que você vá relativamente arrumadinho.

DIA 4: VILLA CRESPO

O bairro é conhecido pelos inúmeros outlets e pelas lojas que vendem artigos de couro. Se a intenção é essa, seu destino é lá. Mas se a vontade também for conhecer bons restaurantes a preços acessíveis, seu lugar também é o Villa Crespo. Além de, claro, caminhar pelas ruas e curtir um passeio encantador.

Comece pelo café da manhã no Malvón, uma padaria aconchegante e com decoração carinhosa. Café con leche, torrada de presunto e queijo e um copo de suco de limão. Provei também o muffin de chocolate.

O almoço pode ser bem barato no Salgado Alimentos, um bodegón especializado em massas que está sempre cheio de pessoas que moram ou trabalham pela região. Uma cesta de pães e um prato de sorrentinos de jamón, queso y verdeo con mixta e tá feita a alegria de quem está louco de fome.

Encerre o dia no balcão do Bar 878 (Ocho Siete Ocho). Todos os bares estão sempre consideravelmente lotados, e, se você não pretende reservar lugar, opte sempre pelo balcão, que reserva sempre as melhores experiências, na minha opinião. Quuando estive lá provei um clássico: o Cynar Julep – com Cynar, hortelã, açúcar e suco de pomelo.

DIA 5: SAN TELMO E PUERTO MADERO

Tente fazer com que o dia de visitar San Telmo caia num domingo, para que você possa conhecer a tradicional Feira de San Telmo. Cuide seus pertences pessoais (nesse dia nem levei a câmera, fotografei somente com o celular) e atravesse a Calle Defensa de ponta a ponta, desde a estátua da Mafalda, criada pelo cartunista argentino Quino, até La Panaderia de Pablo. Eu pedi pelo Desayuno Americano: café, suco de laranja, ovo, bacon e um pãozinho para acompanhar.

Barriga cheia, caminhe um pouco mais pela feira e depois atravesse o bairro até Puerto Madero, uma região moderna e bem diferente do restante da cidade, com prédios imponentes que destoam da arquitetura portenha. É um belo passeio. Vários restaurantes ficam enfileirados de uma ponta à outra da parte que margeia o Rio de la Plata.

A dica é um almoço bem tardio no Happening, casa de parrilla argentina. Tente não cair em tentação com a cesta de pães e aposte no bife de chorizo com fritas, acompanhado de um bom Malbec argentino.

Foi a primeira vez que bebi uma garrafa de vinho inteira sozinha. Levei umas três horas para finalizar, afinal não ia desperdiçar vinho, né? Depois, atravessei a Puente de la Mujer e acompanhei o pôr do sol sentada nos bancos da margem oposta. No brilho!

EXTRA: FUTEBOL

Eu amo futebol. Então, na minha viagem a Buenos Aires não poderia deixar de visitar La Bombonera, estádio do Boca Juniors, e o Monumental de Nuñez, estádio do River Plate. A dificuldade é que eles ficam em regiões opostas da cidade. Como eu fiquei sete dias por lá, consegui reservar um dia somente para isso.

Cedo pela manhã peguei um ônibus e fui até a Bombonera, onde fiz a visita guiada. O legal é que a Bombonera fica muito perto do Caminito, um dos pontos turísticos mais clássicos da cidade. Apesar de tradicional, para mim foi um pouco decepcionante. Porque esperava mais, e eram apenas algumas casas coloridas numa rua muito movimentada de turistas.

Enfim, peguei outro ônibus e atravessei a capital até o Monumental de Nuñez, onde também fiz a visita guiada. Lembro de ter adorado, e além de tudo ainda nos permitiram acessar o gramado. Para mim, ´pisar em gramado de estádio é sempre uma emoção à parte.

TRANSPORTE

Quando estive em Buenos Aires, não havia Uber ainda. O táxi era muito caro, e ainda cheguei lá assustada por histórias de trambiques dos motoristas para enrolar turistas e tirar dinheiro deles. Usei algumas vezes o táxi, mas cada corridinha era 100 pesos pelo menos.

Então, comprei o cartão Sube, que é indispensável para quem quer usar o transporte público de Buenos Aires. Aliás, o metrô e as linhas de ônibus funcionam muito bem por lá. O Sube está à venda nas bilheterias das estações de metrô ou também nos kioskos, espalhados pela cidade inteira (parecem uma banca de jornal, que vende tudo que é tipo de coisa). Se não me engano, paguei 25 pesos pelo cartão, na época, e completei com uns 50 pesos (foi o suficiente para dar minhas voltas pela cidade, já que a maioria dos passeios fiz a pé mesmo).

Meu nome é Juliana Palma, mas sou mais conhecida simplesmente como Ju Palma. Tenho 28 anos e moro em Porto Alegre. Sou uma jornalista especializada em marketing e uma apaixonada por comer, beber e viajar. E é sobre isso que escrevo há seis anos. Nesse meio tempo, ainda me formei sommelière profissional de vinhos. Se quiser falar comigo, é só enviar um e-mail para jupalma@jupalma.com.br

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